Um encontro com as Raízes

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por Luã Reis

 

Museus são uma oportunidade de conhecer não apenas o passado, mas entender o presente. Assim são espaços fundamentais para compreender a realidade e articular ideias. Atento a isso, o Instituto Raízes em Movimento levou a turma do projeto Raízes Locais à um passeio que começou no Catete e encerrou no Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana,  na Zona Portuária do Rio.

Começando pelos Jardins do Palácio do Catete, no Museu da República, guiados por Mario Chagas, a turma teve a chance de observar como a construção daquele local envolve natureza, história e cultura. Não são apenas os edifícios e esculturas que contam histórias, mas também as árvores e fontes. Dali foi possível reparar que “quem possui não é quem constrói”. Um dos alunos dos Raízes Locais, vendo do jardim o imenso palácio construído ainda no período colonial, perguntou: “onde ficavam os escravos?”.

Dentro do palácio, a turma conheceu um pouco da fundação da República, realizada ali. Nas cenas grandiosas que retratam o momento, é possível ver militares de civis interagindo em tribunas e salões, não aparecem mulheres, muito menos negros. Em outra sala, os alunos viram os primeiros passos da República recém criada no Catete: a “pacificação” de Canudos, a base de tiro e bomba e a origem do termo “Favela” e a primeira que se formou. Impossível não se reconhecer.

Encerrando a visita no Catete, todos conheceram um pouco mais do morador mais famoso daquele palácio, Getúlio Vargas. Uma figura tão controversa quanto a atual: ali se promulgou as leis que garantiram os direitos trabalhistas, a garantia da aposentadoria e a criação da Petrobras. Assuntos que todos perceberam não se tratar apenas do passado, são muito presentes. Sendo que, como ressaltou nosso guia Mario, “tudo foi feito ali, no meio da cidade, uma área bastante habitada, ao alcance do povo”. Um dos alunos concluiu: “Ah, se o presidente ainda morasse aqui…”.

 

DESCOBRINDO UMA “PEQUENA ÁFRICA” CARIOCA

Depois do almoço, já pelo centro, a turma seguiu, a partir do Largo de São Francisco da Prainha, pelo Circuito da Herança Africana, agora guiados por Antônio Carlos. O passeio não começou por um museu, mas observando as marcas da história pelas ruas da Saúde, Providência e Gamboa. Por esses bairros, a turma do Raízes Locais pôde compreender a imensa contribuição africana na nossa cidade: “Os escravos africanos não eram apenas os pés e mãos, mas também o cérebro da sociedade”, como definiu nosso guia Antônio Carlos. Afinal, ali estão registradas as técnicas avançadas de arquitetura, urbanismo, engenharia, metalurgia e agricultura que os africanos trouxeram para cá.

Além disso, já na Pedra do Sal, os alunos puderam conhecer a história do samba e do carnaval carioca que teve origem aqui. Muitos anotaram na agenda a roda de samba que acontece toda segunda e sexta-feira ali. Mas também como surgiram os primeiros sindicatos e organizações de trabalhadores naquela região próximo ao porto. Importante para a festa e para o trabalho.

Tomando fôlego e subindo o morro da Conceição, dos belos mirantes, os visitantes se interessam pela geografia daquele lugar e como a cidade começou. Foi possível ver a divisão da cidade nova com a velha. Descendo pelos Jardins Suspensos do Valongo, notaram a contribuição artística dos africanos à paisagem do centro. Tão próxima de um lugar de memória sensível: o Cais do Valongo, que serviu para o desembarque de milhares de africanos escravizados.

O dia de descobertas e reflexões terminou pelo local mais tocante do passeio, o Cemitério dos Pretos Novos. Próximo à Praça da Harmonia, a discreta casa abriga uma memória incomparável: lá estão enterrados dezenas de milhares de escravos, que morreram nas travessias dos navios negreiros ou nos primeiros dias após o desembarque, devido às condições desumanas. Uma experiência impactante para encerrar o passeio.

Com esse passeio, o Instituto Raízes realiza o papel de articular saberes em um sentido transformador da sociedade. Os alunos do Raízes Locais puderam descobrir coisas e interpretar de um jeito “nunca feito na escola”. Puderam perceber entre os museus e o cemitério dos Pretos Novos, pelas ruas da cidade, que longe de estar morto, o passado vive, por isso deve ser reconhecido.

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David Amen - CEPEDOCA - RAIZES EM MOVIMENTO

Escrito por:

Cria do Complexo do Alemão, jornalista, grafiteiro, ilustrador e videomaker. Co-fundador do Raizes em Movimento. Coodernador de comunicação do projeto Memórias Faveladas.

David Amen - CEPEDOCA - RAIZES EM MOVIMENTO

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Cria do Complexo do Alemão, jornalista, grafiteiro, ilustrador e videomaker. Co-fundador do Raizes em Movimento. Coodernador de comunicação do projeto Memórias Faveladas.

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