Raízes Locais e o olhar de Pamella Ribeiro

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Sou Pamella Medeiros Ribeiro, tenho 18 anos, estudo no Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes, sou estagiária do Projeto Raízes Locais, moro em Olaria – Rio de Janeiro.

O Raízes Locais, projeto no qual estou inserida, têm suas ações voltadas para resgate das memórias e identidades do Complexo do Alemão através de entrevistas feitas por jovens do ensino médio de colégios públicos locais, estas entrevistas são realizadas junto aos moradores antigos. Com o material produzido dos depoimentos vamos construir uma cartografia social do espaço favorecendo a relação intergeracional.

Antes de tal etapa passamos como preparativo de diversas oficinas, uma dessas oficinas foi de técnica de entrevista; mas nenhuma das fases do projeto foi tão boa quanto a de fazer a entrevista em campo, pois o contato com os entrevistados, a atenção e o carinho recebido deles foi e é algo inexplicável.

Chegando na etapa da entrevista, poderíamos escolher quem iríamos entrevistar. Os entrevistados poderiam ser pessoas que tinhamos mais intimidade, ou seja, alguém próximo a nós, como: familiares, amigos, vizinhos ou até mesmo um conhecido de vista que deveria ser residente no Complexo do Alemão.

O Sr. Paulo chegou a mim como possibilidade de ser entrevistado através do Coordenador do projeto, Alan Brum Pinheiro. Eles já se conheciam, desde quando Sr. Paulo era agente de saúde do (CMS) Alemão.

Paulo César Avelino, tem 64 anos, mora na rua Conselheiro Ribas, nº 82 – Pedra do Sapo, Complexo do Alemão. Seu Paulinho, como é carinhosamente chamado por moradores do morro, mora no morro há exatamente 64 anos. Ele realiza trabalhos voltados para crianças do local. Já construiu um parquinho, que deu super certo, mas que infelizmente foi se deteriorando com o tempo. Em um pequeno espaço que é da igreja, criou uma biblioteca na qual não pode abrir ainda por falta de verbas e parcerias. E o sonho dele é poder abrir um colégio para as crianças do morro e montar um espaço de desenvolvimento esportivo, para que assim, as crianças tenham o que fazer e não se envolvam com a criminalidade. Ele é aposentado, pastor há 5 anos numa igreja próxima à sua casa. Seu Paulinho é querido e amados por toda vizinhança. Ah, ele também vende sacolés maravilhosos, que fiz questão de experimentar, o mais famoso sacolé da Conselheiro Ribas!

Meu primeiro contato com ele foi no dia 01 de abril de 2017 na Caminhada do Conhecimento (nela contamos a história do surgimento do Complexo do Alemão), precisamente, quando estávamos retornando ao mesmo lugar de partida, numa parte do caminho paramos na Igreja da Aliança Eterna, a convite do Alan Brum para ouvir as história de Sr. Paulo. Ao final deste momento, quando já estávamos indo embora, Alan contou para Sr. Paulo do Projeto e convidou o mesmo para dar entrevista a um dos jovens que ainda não tinha feito, ele aceitou de imediato. Na semana seguinte, eu e Hector Santos nos deslocamos até o local junto com o Renato Tutsis que nos acompanhou e auxiliou na entrevista.

As perguntas giraram em torno da história dele que tem ligação direta com a história do Complexo do Alemão. Foram feitas perguntas sobre a infância dele, já que a sua infância foi vivida junto com os primeiros anos do Complexo do Alemão, e o crescimento da comunidade ocorreu junto com o seu crescimento pessoal. Com essa temática eu pude perceber a diferença do tempo em que ele passou a sua juventude e o tempo atual da minha juventude e como a comunidade em si mudou tanto através dos anos.

Ele disse que gostou muito da entrevista e diz que passar seu conhecimento para outras pessoas é sempre importante. Seu Paulinho se emocionou ao relatar o que vivenciou na comunidade e ao contar sobre os amigos da juventude que perdeu com o crescimento da bandidagem. Além de contar a nós sobre suas realizações e sonhos.

Ao encontrar com Seu Paulinho no dia da caminhada e ao ouvir tudo que foi dito dele e por ele, eu percebi que ele é aquele que quer sempre fazer o bem sem olhar a quem. Ele disse que aonde ele mora era o paraíso e então percebi que ele era louco. Me questionei, como assim paraíso se há tantos confrontos e necessidades na comunidade?! Então logo após a entrevista consegui enxergar o que ele vê na Conselheiro Ribas. Ele enxerga um futuro com a possibilidade de ter crianças frequentando uma biblioteca, um centro educacional e um centro esportivo para a moçada daquele lugar. Ele é muito sonhador, e mesmo sem parcerias ou patrocínios, ele não deixou de sonhar, de buscar e de perseverar por um futuro melhor e mais educativo para as crianças da comunidade. Como sempre muito carinhoso, atencioso e amigo, Seu Paulinho e eu criamos um vínculo muito bonito, hoje em dia ele me considerada como uma filha do coração e particularmente, eu gosto muito de todo carinho e afeto transmitido a mim dele.

Seu depoimento fornecido ao projeto é de muita importância para conhecimento de todos os moradores do Complexo do Alemão e de moradores de outros lugares, porque o que ele relata são acontecimentos importantes e que podem fazer parte do acervo da história local. Com todas as informações sobre a história do Complexo do Alemão que nos foi dada, conseguimos obter um bom acervo histórico que foi complementado ao ideal do Projeto Raízes Locais.

 

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David Amen - CEPEDOCA - RAIZES EM MOVIMENTO

Escrito por:

Cria do Complexo do Alemão, jornalista, grafiteiro, ilustrador e videomaker. Co-fundador do Raizes em Movimento. Coodernador de comunicação do projeto Memórias Faveladas.

David Amen - CEPEDOCA - RAIZES EM MOVIMENTO

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Cria do Complexo do Alemão, jornalista, grafiteiro, ilustrador e videomaker. Co-fundador do Raizes em Movimento. Coodernador de comunicação do projeto Memórias Faveladas.

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